Corredor cubano se encanta com as belezas do Circuito Rio Antigo
Pode se dizer que foi uma paixão arrebatadora. O cubano Javier Guillot Jiménez, de 34 anos, conheceu o Circuito Rio Antigo no fim de 2017, na Etapa Porto Maravilha. Participou de um concurso cultural e ganhou a inscrição ao criar uma frase com as palavras “maravilhoso” e “porto”. Desde então esteve presente em todas as etapas do circuito.
“Ainda hoje continuo aprendendo português, mas mesmo assim naquele momento eu decidi participar. A frase foi ‘O Rio, o antigo, o atual, tem aquele sentir maravilhoso que você só sente ao descobrir cada novo porto.’ E essa frase me levou a correr por ruas nas quais eu nunca tinha corrido antes. Eu não imaginava que seria possível correr por avenidas tão transitadas como a Rio Branco ou a Presidente Vargas. E eu nem sabia que existia o túnel 450”, conta Javier, bacharel e mestre em Ciência da Computação pela Universidade de Havana e atual doutorando em Informática na PUC-Rio.
A recente relação com o Circuito Rio Antigo é um contraste com antiga e firme relação de Javier com a corrida. Algo consolidado em quase 20 anos de cumplicidade. O cubano conta que a corrida sempre o ajudou a relaxar e a prestar mais atenção às coisas simples e belas do meio ambiente.
“Comecei a correr quando eu tinha uns 15 anos. Na época eu estudava em um instituto vocacional de ciências exatas. Estudava muito e encontrei na corrida esse momento de paz e tranquilidade, no final do dia, fundamental para organizar todas as minhas ideias. A escola ficava ao lado do Jardim Botânico Nacional, então eu corria por ruas muito tranquilas e conseguia entrar em contato com a natureza, sentir o som de cada passada, do ar batendo nas árvores, dos pássaros. Acho que é por isso que sempre que eu corro fico atento a tudo o que tem ao meu redor”, diz o corredor, que vive no Brasil há dois anos e meio.
Algo um tanto diferente do que encontrou e o atraiu na imensidão de concreto do Circuito Rio Antigo. Mas a curiosidade e o hábito de ver com atenção tudo o que está ao seu redor fizeram com que Javier marcasse presença nas quatro provas do circuito este ano. Cada uma delas aproveitadas ao máximo e registradas em fotos que ele faz questão de fazer por onde passa. Alguns desses lugares, ele conheceu exatamente no dia da corrida, como a Quinta da Boa Vista.
“Correr estas provas me permitiu conhecer lugares antigos no Rio mas totalmente novos para mim. Eu gosto de conhecer a história dos lugares que visito, onde moro, adoro visitar museus e me surpreender com os milhares de histórias, com os registros fotográficos, com as obras de arte, E o Circuito Rio Antigo tem me presenteado com história a cada etapa. A primeira vez que fui na Quinta da Boa Vista foi para correr a segunda etapa do circuito. Nunca tinha estado tão perto do Maracanã e, nessa corrida, dei uma volta ao redor desse estádio histórico. Foi maravilhoso correr dentro da Quinta e saber que essa tinha sido a casa da família imperial no Rio. Um mês depois fui e conheci o museu, antes de que tanta história se perdesse por causa do fogo”, conta Javier.
Mas não é só a história ou a cultura que atraem o corredor ao Rio Antigo. Javier treina duro e também valoriza a competição. Tanto que subiu ao pódio em sua faixa etária nas quatro etapas de 2018. Hoje orgulha dos quatro troféus e fica fascinado com a mandala de medalhas.
“Além da história presente nos percursos do circuito, essas corridas são muito disputadas, com atletas de um alto nível competitivo e isso faz com que eu tente me superar a cada prova. Também acho que as medalhas do circuito são das mais lindas que eu já vi. Cada medalha é uma obra de arte. E pelo menos para mim, que sou estrangeiro, é maravilhoso ter uma medalha que será para sempre uma lembrança dos Arcos da Lapa, do Museu Nacional, do Teatro Municipal e do Museu do Amanhã. É um pedaço do Rio que irá comigo onde quer que eu vá”.
Mas não foi sem susto, ou sem uma pontinha de superação. Tudo caminhou bem até o fim da terceira etapa do circuito. Pouco mais de um mês antes da Etapa Porto Maravilha, Javier ficou doente e precisou dar um tempo nos treinos. O médico recomendara repouso absoluto e mesmo completar a mandala passou ser uma dúvida. Foi um balde de água fria,
mas menos de duas semanas antes da prova Javier foi liberado e voltou aos treinos com a AF Runners. A mandala estaria completa, já o pódio e o troféu na faixa etária…
“No dia da prova só fui e dei o meu melhor. É difícil de explicar qual a sensação de completar a mandala. Esse ano essa era uma das minhas prioridades na corrida. Desde que corri a última etapa de 2017, eu disse que em 2018 ia correr todas as etapas. Minha família e meus amigos sabiam disso. Foi incrível cruzar a linha de chegada com o sangue nos olhos, dando tudo de mim na última corrida do ano, e receber essa medalha linda. Depois fiquei esperando durante a premiação e quando ouvi meu nome como terceiro colocado na faixa etária… me explica como eu posso descrever tamanha felicidade? Senti esse
troféu como um prémio por minha disciplina e dedicação nos treinos, pela grande paixão que eu sinto pela corrida, enfim, o melhor presente que eu poderia ter recebido para fechar o ano”.