Irion Filho: ‘Se adaptar a um mundo diferente será primordial e utilizar o esporte em nossas vidas pode contribuir nesse processo”  

Irion Filho: ‘Se adaptar a um mundo diferente será primordial e utilizar o esporte em nossas vidas pode contribuir nesse processo”  

23 de abril de 2020 2 Por Paulo Prudente

Aos 39 anos, Irion Serafim de Souza Filho tem uma vida inteira de prática esportiva. Passou por diversas modalidades até se encontrar no triathlon. Filiado à federação paulista da modalidade, Irion Filho mora em Itaquaquecetuba-SP, onde se recupera de uma cirurgia no joelho. Além de técnico de triathlon nível III, tem pós-graduação em Triathlon, Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na Saúde, Doença e Envelhecimento. Batemos um papo com ele sobre sua trajetória no esporte, sobre sua recuperação e sobre como o atual cenário em que vivemos afetou os seus planos. Confira!

 

Como começou sua trajetória no esporte e quando chegou ao triathlon?

O esporte entrou na minha vida ainda na infância. Minha primeira memória esportiva foi o Joaquim Cruz dando a volta olímpica com a bandeira na mão, após tornar-se campeão olímpico em 1984, em Los Angeles. Aos seis anos, em Jaboatão dos Guararapes-PE, comecei a praticar judô, natação e futsal na escola. Quando retornei a São Paulo, com 10 anos joguei de goleiro e de fixo no futsal da escola.

Após sofrer uma fratura e luxação no cotovelo, retornei à natação por recomendação médica, já com 15 anos.  A partir daí resolvi treinar a natação mais a sério em Suzano e ingressei na equipe da cidade.  Durante a faculdade, não conseguia treinar mais a sério, mas praticava diversas modalidades no centro esportivo que a UMC tinha na época, participando do INTEREF, Jogos Esportivos entre faculdades de Educação Física, em várias modalidades.  Natação, aquathlon, judô, futsal, basquete, vôlei… Cheguei a ser presidente da associação atlética do curso.

Em 2004 comprei minha primeira bike, uma Caloi Strada, e em março 2005, aos 24 anos, participei da minha primeira prova de triathlon. Desde então, já participei de muitas provas no Brasil e no exterior. Campeonatos estaduais, nacionais, panamericano, iberoamericano e mundiais. Em diferentes distâncias e provas, sempre competindo como amador, nas categorias de idade.

 

Como foi seu ano de 2019?

Foi um ano muito positivo.  Já comecei, em fevereiro, sendo vice-campeão Iberoamericano de Triathlon de média distância (1,9km / 90km / 21km), em Havana, Cuba. Uma experiência incrível.  Recebi a medalha das mãos do Javier Sotomayor, campeão olímpico em 1992 e recordista mundial do salto em altura desde 1993. Ainda conheci um lugar que nos ensina muito e fiz amizades de um modo que não havia feito, mesmo as tantas viagens que já fiz competindo desde 2005.  Fui também ao Campeonato Mundial Multisport em Pontevedra, Espanha, em que competi no aquathlon e na aquabike.

Durante o ano participei também de campeonatos Nacionais de Aquatlhon, Triathlon Standard, do 70.3 Rio de Janeiro, para garantir as vagas para os mundiais em 2020, e finalizei o ano me sagrando Campeão Paulista de Triathlon Standard na categoria 35-39 anos.

 

Como era sua rotina de treinos antes desta parada forçada?

Em condições normais, eu realizava treinos em dois períodos: cedo pela manhã e num intervalo do trabalho no período da tarde, além dos fins de semanas. Tentava acumular em cada semana, três sessões de natação, quatro de ciclismo e quatro de corrida, além de duas sessões de trabalho de força. Porém, em 2019 eu vinha sofrendo com dores no joelho e em janeiro de 2020 realizei uma cirurgia. Desde então estou em processo de reabilitação, fisioterapia e retorno gradativo e leve aos treinos. Estava retornando à estrada e à piscina, mas desde que surgiram as orientações de distanciamento social, tenho realizado exercícios gerais em casa mesmo. Peguei um rolo emprestado, baixei um simulador de ciclismo virtual para assim pedalar em casa, evitando acidentes e a chance de precisar de atendimento médico nesse momento. Devo seguir nesse processo com o trabalho aeróbio no simulador virtual de ciclismo e com exercícios gerais realizados dentro de casa mesmo. Tenho aqui elásticos, TRX, e dá pra realizar muita coisa para o corpo todo.  É uma ótima oportunidade para enfatizar pontos que, com rotina normal, não conseguiríamos trabalhar.

 

O que mudou em seus planos com este novo cenário?

Na verdade, não havia decido exatamente quais provas faria, pois dependia da minha reabilitação para retornar às competições. Mas a intenção era participar da seletiva paulista para o Campeonato Brasileiro de Triatlhon Standard, além de participar do Mundial Multisports da ITU em setembro na Holanda.   Neste exato momento, estou concentrado em me reabilitar da melhor maneira e sinceramente não estou muito preocupado com as mudanças que o calendário esportivo deve sofrer.

 

Pode falar um pouco sobre a importância de um treinador nestes dias peculiares que vivemos?

Para todos os atletas e pessoas que desejam ou praticam atividade física é de suma importância receberem a orientação de um profissional qualificado e habilitado para tal. Exercícios previnem doenças, previnem lesões, podem contribuir no fortalecimento do sistema imunológico. Mas ter um profissional orientando as atividades é de suma importância nesse momento.  Mesmo à distância é fundamental ter contato com um profissional.. Eu oriento triatletas, maratonistas, ultramaratonistas, em diferentes estados do país e todos estão conseguindo treinar, de acordo com as orientações das autoridades, em segurança para si próprio, família e para as pessoas com as quais interagem em suas rotinas.

 

Que impacto o triathlon na sua vida? Estilo de vida, ânimo, disciplina, foco… leva tudo isso para outras áreas de sua vida?

Desde 2005, sempre planejo o ano pensando nas competições que participarei, as férias e viagens, e até os horários de trabalho encaixo de um modo que me permita treinar. E seguindo essa rotina, naturalmente o estilo de vida e hábitos acabam sendo adequados ao esporte.  Confesso que não sou tão disciplinado quanto deveria ser, mas quando estamos envolvidos e temos objetivos em mente, conseguimos realizar as ações necessárias com maior facilidade. Dificilmente alguém tem um tipo de comportamento em uma área da vida e uma atitude diferente em outra, e por isso o esporte pode contribuir para mudanças na vida de muita gente, através de seus valores. Há diversos relatos de pessoas que mudaram de vida quando iniciaram uma prática esportiva, e isso em diversos aspectos, econômica, psicológica ou socialmente, no estilo de vida, alimentação, ajudando a superar doenças, dependência química, etc. Portanto não dá pra negar que o triathlon e o esporte são ferramentas valiosas, quando se almeja modificar algo em nossas vidas, e até na sociedade em que vivemos.

 

Podemos tirar algum aprendizado do que estamos vivendo e do que está por vir?

Na verdade, ninguém sabe ao certo como as coisas acontecerão. Estamos mais interligados do que imaginávamos e não temos controle sobre tudo, como muitos imaginavam. Só temos certeza de que muita coisa mudará, relações e novas formas de trabalho surgirão, as relações com o planeta e com as pessoas de um modo geral serão modificadas. Se adaptar a um mundo diferente será primordial e cabe a nós fazer do futuro um tempo melhor. Utilizar o esporte em nossas vidas pode contribuir nesse processo.