Já ouviu falar em HIPONATREMIA?

Já ouviu falar em HIPONATREMIA?

16 de junho de 2018 0 Por boratreinar

Você sabia que água em excesso pode intoxicar?

Quanto mais água melhor. Certo? Talvez não. O ultramaratonista Jorge Cerqueira já sofreu no corpo os efeitos pelo excesso de ingestão de água. O hoje experiente corredor sofreu uma hiponatremia – intoxicação por água – durante sua primeira maratona, no Rio.

“Eu era inexperiente e diante do forte calor durante a Maratona decidi beber muita água em todos os postos de hidratação. Não tinha a menor ideia de que era preciso me hidratar também com gel e isotônico. Como consequência, dentro do túnel, em Botafogo, comecei a perder a visão e senti que ia apagar. Sentei, respirei fundo e decidi tomar um gel. Melhorei e consegui seguir caminhando ou trotando até a linha de chegada”, conta o ultramaratonista, que dias depois soube que esteve prestes a sofrer uma hiponatremia.

Em casos extremos e graves, a hiponatremia, que é um distúrbio eletrolítico, pode gerar confusão mental, levando ao coma e até a morte. Segundo a Dra. Flávia Pinho Teixeira, médica do esporte com formação em nutrologia esportiva e mestrado em Fisiologia do Exercício, é possível que o ultramaratonista Jorge Cerqueira tenha apresentado uma forma leve do distúrbio, que não chega a ser rara.

“Sua forma leve não é rara, visto que pratica-se a recomendação de hiperidratação. Mas como a reposição de sais minerais nem sempre é feita da forma adequada durante provas longas…”, alerta a  médica.

Muitos treinadores – a grande maioria – recomendam a seus atletas, farta ingestão de água durante as provas. Mas como saber que há exagero. Segundo a médica é difícil saber, já que são muitas as variáveis numa determinada prova ou mesmo num dia de treino.

“Tudo depende não só de cada organismo, como também do tempo de prova, da temperatura e da umidade. Os sintomas iniciais da hiponatremia leve são mal estar geral, cefaléia, náuseas, falta de coordenação motorauscular e câimbras. O ideal é não esperar por estes sinais para repor o sódio perdido. Em provas acima de uma hora ou em locais muito quentes e úmidos devemos alternar a ingestão de água com isotônicos”, explica a médica.

Ainda há certa polêmica quanto à ingestão de água durante a atividade física. Se é necessário a sensação de sede ou não. Atualmente muitos profissionais, médicos e treinadores, já se preocupam com a prevenção, com uma simples recomendação.

“A recomendação atual, exatamente para evitar hiperidratação e hiponatremia, é a de beber água quando tivermos sede e de alternar água com isotônicos em provas maiores do que uma hora de duração. Mas é importante estar atento em relação à sede já que sua percepção pode ficar alterada durante exercícios de longa duração ou de alta intensidade” diz a médica.

Em casos mais graves, com alterações neurológicas, a recomendação é de internação e correção lenta da hiponatremia com soluções salinas hipertônicas venosas. Normalmente demoramos 24 a 72 horas para corrigirmos de forma segura.

“A rápida correção do sódio pode gerar um distúrbio neurológico grave chamado mielinolise pontina. Uma vez corrigida a hiponatremia, se esta for gerada apenas pela hiperidratação, o paciente fica assintomático e pode retornar a sua rotina”, completa a doutora Flávia.

Para Antônio Carlos Ferreira, corredor experiente e treinador da Assessoria Esportiva Mitokondria, do Rio de Janeiro, não é correto generalizar o assunto, até por que o fenômeno, como já disse a Dra. Flávia Pinho, tem muitas variáveis.

“A hiponatremia não é tão fácil de ocorrer por que além de multifacetado, envolve hormônios, bebidas isotônicas, água, temperatura e umidade ambientes, intensidade do exercício e tempo de exercício. A recomendação de consumo de água da Organização Mundial de Saúde é de dois a quatro litros por dia para as pessoas de uma forma geral. Aos meus atletas recomendo quatro litros de água ou suco de frutas. Acho temerário generalizar e recomendar o consumo de água somente com a sensação de sede. É como generalizar a recomendação de se usar tênis minimalista ou de se correr descalço”, explica Antonio Carlos.

Para o treinador também não é apropriado fazer comparações com atletas de alto rendimento, especialmente os de distâncias como a maratona. Realmente pouco se vê estes corredores aceitando água nos postos de hidratação ao longo do percurso.

 

“Normalmente, as provas que vemos são em locais com clima mais ameno. Estes atletas não pegam água porque estão muito bem treinados. Treinam para isso. Mesmo assim pegam um líquido preparado individualmente e entregue á organização da prova para lhe ser entregue em um momento específico da prova. Teoricamente, quanto menor a distância, menor a necessidade de água. Mas mesmo para 5 km aqui no Rio, recomendo a ingestão de água. Quanto a só beber quando estiver com sede, creio que o volume de água capaz de encher nosso estômago não será suficiente para uma boa reidratação. Logo, não compartilho da ideia de só beber quando sentir sede. O  ideal é ter uma estratégia de hidratação para antes, durante e depois de provas e treinos.

HIPONATREMIA

O que é?

É a queda do sódio plasmático abaixo de 135 mEq/L
Como ocorre?
Em atletas, geralmente pela diluição do sódio gerada pelo excesso da ingestão de água, a hiperidratação. Mas há doenças e algumas medicações que podem provocar hiponatremia.

Quais os sintomas?
Mal estar, cefaléia, náuseas, caimbras, falta de coordenação motora, agitação , confusão mental e até coma.

O que ela provoca?

Queda da osmolaridade plasmática.

Como tratar?
Restringindo-se a ingestão de água livre e repondo o sódio de forma venosa em casos mais graves.

Como evitar Hiponatremia?

Hidratando-se de acordo com a sede e alternando a ingestão de água com a de isotônicos em provas longas ou em locais quentes e úmidos.