Dia Mundial de Combate ao Câncer: Melissa Ilha de frente para a prova mais dura de sua vida
Neste 8 de abril celebrou-se o Dia Mundial de Combate ao Câncer. Algumas instituições ainda celebram a data em 4 de fevereiro. Na verdade, todo dia é uma oportunidade de passar informações sobre a doença e de contar histórias de pessoas que resolveram lutar contra ela com força e dignidade. Em muitas delas, o esporte é parte decisiva.
Profissional de Educação Física e nutricionista, Melissa Ilha Martins, de 55 anos, pratica esportes desde os 18 anos. Aos 32 anos começou a correr e perto dos 40 partiu para o triathlon, onde construiu uma carreira de atleta amadora de encher os olhos. E olha que nem foi algo planejado.
´´Na corrida eu vivia me machucando, então resolvi começar a pedalar e nadar para fortalecer a musculatura e tentar reduzir os riscos de lesão. E realmente funcionou´´, conta a atleta que já perdeu a conta do número de provas – curtas e longas – de que participou. No currículo, nada menos que nove provas de ironman e 10 de meio-ironman concluídas.
Respeitada entre os colegas como atleta, profissional de nutrição e coach, Melissa parecia se preparar para uma das competições mais duras neste pouco mais de meio século de vida: um câncer de mama diagnosticado tardiamente.
´´Eu já havia percebido cistos em ambos os seios e vinha monitorando, com ressonância magnética e os demais exames. Mas o diagnóstico era sempre mesmo: cistos. Até que eles começaram a doer, especialmente o do lado direito. Resolvi investigar mais e descobri que era um tumor maligno. Fui no mastologista e operei, mas já havia metástases na axila´´.
O diagnóstico de câncer não chegou a ser surpresa, dado o histórico familiar, mas ainda assim Melissa confessa ter ficado um tanto chocada, afinal sempre levou uma vida saudável, com boa alimentação e atividades físicas quase que diariamente. Mas quando o assunto é genética…
´´Minha mãe teve câncer muito nova. Diversos tipos como de mama pelo menos duas vezes, pulmão, tireoide… Uma lista grande… Pelo menos quatro tias, irmãs de minha mãe, tiveram câncer de mama. Essa minha parte genética é bem complicada. Um diagnóstico assim sempre dá aquele susto e você acha que vai morrer em dois, três meses´´.
Passado o susto inicial, restou a Melissa dedicar-se ao tratamento com a mesma disciplina das jornadas de treinos que a levaram a completar com sucesso tantas provas de endurance. A diferença é que aquilo era algo novo para ela, que poderia impactar em seu trabalho, no curso de pós-graduação e nos treinos.
´´O tratamento foi bem difícil e não achei no início que seria assim. Não tinha noção do que era aquilo. Cada fase teve seu problema, sua dificuldade. Cansaço, enjoos… Toda a quimioterapia me deixou muito mal. A radioterapia foi mais tranquila e só comecei a sentir os sintomas no final das 25 sessões´´, conta a atleta, que agora precisa espera cerca de quatro meses para um novo exame e saber se tudo isso terá bons resultados.
Embora veja sua vida como uma verdadeira montanha russa, com dias bons e dias ruins, Melissa não se deixa abater e procura focar nos dias bons. Um trabalho mental típico de um experiente atleta de endurance.
´´Na vida há momentos bons e ruins. Por causa deste tratamento os dias ruins têm sido bem ruins, difíceis de superar. Mas eu não fico pensando neles, por que isso não resolve. Só me deixa mais triste e chateada. Potencializar a parte ruim vai me deixar deprimida´´, conta Melissa, que no meio desse turbilhão não deixa de atender seus pacientes, de dar atenção dos bichos, estudar e treinar, quando está disposta.
Aliás, o triathlon deu a Melissa a fama de durona, afinal é preciso ser assim para lidar durante horas seguidas com o desconforto, com as dores e com os altos baixos de uma prova de endurance. Física e mentalmente! Algo que a triatleta procura aplicar em todas as áreas de sua vida.
´´Todo mundo me diz que sou forte e que estou superando tudo muito bem. Acho que passo essa imagem e isso em função do esporte, principalmente do triathlon, uma modalidade de superação. Durante a prova oscilamos entre altos e baixos, sempre com aquela expectativa de que os dois passam. Ficamos gerenciando este vai e vem de emoções boas e ruins. E isso na vida da gente é um ensinamento. Se superar e passar por cima da dor´´.
Atualmente, Melissa precisa se medicar com três remédios praticamente a cada dozes horas, em uma quimioterapia oral que devo durar de dois a cinco anos e que tem muitos efeitos colaterais, como fadiga e problemas gastrointestinais. Essa, aliás, tem sido a parte difícil por que afetam seus treinos.
´´Poderia estar mais satisfeita, mas não estou conseguindo fazer exercícios como gostaria de fazer. Sempre precisei do esporte me sentir bem. O médico disse que vai passar e eu acredito nisso. Não vejo a hora desse mal estar todo passar e retomar os treinos do jeito que eu gosto e preciso´´.