Na fria Copenhagen, Rachel Birman Tonietto estuda e se prepara para a Meia Internacional do Rio

Na fria Copenhagen, Rachel Birman Tonietto estuda e se prepara para a Meia Internacional do Rio

28 de junho de 2019 3 Por Paulo Prudente

A estudante Rachel Birman Tonietto, 22 anos, está fazendo intercâmbio e atualmente mora em Copenhagen, na Dinamarca. Lá se prepara para a Meia Internacional do Rio, que pretende fazer quando estiver de vota ao Brasil em agosto. Há cerca de seis anos, Rachel usou a corrida para substituir esportes aquáticos que fazia.

“Fazia natação, saltos ornamentais e nado sincronizado. E a principal intenção no início era fazer com a corrida continuasse liberando endorfina e produzindo serotonina, a que estava tão acostumada. Acho que não sei viver sem ela. E claro, que com 16 ou 17 anos, veio também a questão estética de emagrecimento”.

No início eram treinos por conta própria. E sem acompanhamento de um profissional, sem fortalecimento e com uma dieta pobre em nutrientes vieram as lesões. E Rachel acabou deixando a corrida de lado.

Para voltar, foi preciso, antes de tudo, trabalhar a cabeça.

“Depois de compreender melhor minhas necessidades, as necessidades do meu corpo e estar melhor em relação à alimentação, voltei a correr, mas continuava sem acompanhamento. E por ter o espírito de atleta, eu ia além do que podia, além do que meu corpo se permitia e com isso me machucava de novo. Até que depois de uma lesão e de finalmente compreender melhor onde eu estava pecando, procurei o Beto, em janeiro de 2018. Precisava de alguém para me forçar, mas ao mesmo tempo mandar eu parar”, conta Rachel, que desde então viu sua corrida melhorar, sem lesões, mesmo com aumento de carga, de volume e com muita superação e desafios.

Por conta do histórico de lesões, foi preciso um período de base, com treinos de fortalecimento, de mecânica de corrida, o que fez toda diferença para que Rachel, mais recentemente, pensasse em correr uma meia maratona.

Mas para treinar e evoluir é preciso motivação. A atleta confessa que estar longe do Brasil atrapalha um pouco, mas não usa isso como desculpa e trata de buscar a motivação necessária para atingir seus objetivos.

“Uma das coisas de que mais sinto falta para manter a motivação é ter uma equipe para treinar e das companhias de treino. Mas colocar objetivos, metas e desafios pessoais sempre me mantiveram motivada. Uma motivação pessoal de ser sempre melhor do que eu mesma e de me desafiar e ver que consigo e que é possível”.

No momento, o desafio da vez é a Meia Maratona Internacional do Rio, em agosto. Rachel conta que sempre sonhou correr uma meia, mas as lesões a forçavam desistir. E como o sonho já é uma realidade, ele começa dar a vez a outro.

“Pela primeira vez estou aumentando carga e volume sem me machucar. Sem dúvidas tenho a intenção de aumentar essa distância posteriormente. Quem sabe fazer uma maratona e desbravar outros tipos de corrida que não sejam no asfalto ou na areia. Penso no trail run e outras provas dentro desse esporte incrível”.

Mas não é só a corrida que está nos planos de Rachel. Como ex-atleta de natação, ela já faz planos de voltar a nadar quando voltar ao Brasil. Confessa que sente falta das braçadas em Copenhagen. E depois de unir a corrida e a natação…

“Quando entrei na BLC o bichinho do triathlon me mordeu. Ao ver grande parte da equipe treinando surgiu o sonho de começar a treinar. A Dinamarca é um dos países com mais quilometragem de ciclovias e que incentiva muito o ciclismo. Isso faz minha vontade de pedalar aumentar. Costumo dizer que aqui é um duathlon por dia, porque a maneira mais fácil e o melhor meio de transporte para se locomover na cidade é a bike. Então, a ideia é quando voltar procurar uma bike para me iniciar no triathlon e aí sim também ter novas provas e sonhos na modalidade”.

Enquanto o triathlon não entra de vez na rotina de Rachel, ela já vai se preparando para a dureza de conciliar esporte, vida acadêmica, família e trabalho. A dificuldade já existe, mas a atleta tem dentro de casa apoio e inspiração para seguir adiante.

“Sou estudante de arquitetura e não consigo controlar muito bem o tempo que vai demorar pra fazer uma maquete ou um projeto, encontros de grupo e tudo que envolve essa profissão. É bem difícil estar no controle das situações, mas acredito que precisamos entender quais são as prioridades da nossa vida naquele momento e investir nessas prioridades.  Conciliar família, amigos e treino também é um desafio, mas por ter dentro de casa ex-atletas, que são meus exemplos, como meu pai e minha irmã, sempre houve uma compreensão muito grande. E estar numa equipe com amigos lá também ajuda muito. Ter pessoas com o mesmo estilo de vida e que entendem a nossa dificuldade é unir o útil ao agradável. É juntar amigos e treinos”.

Mas os benefícios da prática esportiva fazem com que Rachel sequer pense em parar. Nem é preciso levar em conta a qualidade de vida, que é algo óbvio na rotina de quem pratica esportes. Mas deixar com que a disciplina, a força e o foco usados nos treinos impactem na vida pessoal, acadêmica e profissional é algo muito pessoal.

“Desde de que nasci o esporte teve uma influência enorme na minha vida. Vim de uma família de atletas e de pessoas que prezavam e incentivavam a prática do esporte. Com isso, eu diria que desde pequena me ensinaram e eu aprendi e levo pra vida a disciplina que o esporte exige. O esporte também influencia muito minhas relações interpessoais, em fazer amigos, a aprender a vibrar pela vitória do outro e de aprender a me relacionar em equipe. Além disso, ele influencia no meu humor e na disposição para o dia-a-dia. Um dia que começa com alguma atividade física muda muito! A energia, a felicidade, tudo! Tudo mesmo, até a parte difícil. Saber perder, aprender a me frustrar, me reerguer e voltar ainda mais forte. Tudo isso eu uso no esporte e na vida. Quando não foi a vida que me ensinou, foi o esporte!”

Pelas dificuldades que enfrenta para seguir à distância a planilha do treinador Beto Lundgren, Rachel promete voltar da Dinamarca mentalmente forte e preparada para encarar a complicada e dura rotina de treinos que o triathlon exige. Logo que chegou deu cara uma temperatura completamente diferente da que estava acostumada no Rio.

“Quando cheguei estava muito frio, chovia muito e nevava. Achar motivação para correr nessas temperaturas, pra quem estava acostumada com o calor do Rio, foi muito difícil no início. Mas depois me adaptei e os dias foram melhorando conforme as estações mudavam. Me lembro de uma vez ter escrito para o Beto ‘corri com chuva, neve e um vento que cortava minha cara”, revela a atleta.

A falta de companhia para treinar também era um desafio em determinados dias. Alguém para ‘carregá-la’ para treinar, incentivá-la e dar o seu melhor. Era Rachel e mais ninguém.

“Era só eu comigo mesmo me incentivando ao meu melhor. Às vezes, quando você está no limite, uma voz de incentivo de alguém da equipe ou em uma língua que você entenda faz toda a diferença”.