Assessorias adotam novas estratégias para atender alunos interessados no trail running

Assessorias adotam novas estratégias para atender alunos interessados no trail running

28 de setembro de 2018 0 Por Paulo Prudente

Treinamento especializado em trail running é algo relativamente novo. Ainda não é tão comum uma assessoria esportiva que dedique 100% às corridas de montanha. Mas também não se pode fechar os olhos a um novo segmento do esporte, que tem atraído cada vez mais pessoas. Antes acostumadas apenas à corrida de rua e á facilidade para promover os treinos em grupo, as assessorias se viram obrigadas a fazer ajustes para manter seus alunos e mesmo seguir em crescimento.

A Soutri Assessoria Esportiva, de Belo Horizonte, carrega em seu nome o DNA do triathlon. Mas isso não impediu o treinador Renato Vinícius Ferreira de experimentar o trail running. Os bons resultados logo apareceram e hoje ele acaba sendo seguido por alguns de seus atletas, especialmente aqueles que tem a necessidade de viver novas experiências.

“Acredito que o principal atrativo do trail running é a variação. A saída da rotina. Depois de muitas temporadas de treino para provas específicas de triathlon, eles escolhem uma prova trail para quebrar esta rotina. É como um outro desafio. Os percursos, as distâncias… Isso chama a atenção dos atletas de triathlon que gostam de desafios”, diz Renato, que lidera o ranking brasileiro da Revista Trail Running nas distâncias 70 a 99K.

Renato e seus atletas da SOUTRI

Renato percebeu que precisava dar maior atenção ao trail run em 2016, quando começou a se interessar pela modalidade e viu de perto o aumento no número de provas. Decidiu então estudar e planejar as possibilidades para a Soutri.

“Em 2016 me apaixonei pela modalidade e quando vi o crescimento do número de provas, resolvemos criar e adotar todo o sistema de treinamento e suporte para nossos atletas. Para isso acontecer foi necessário um estudo sobre as principais provas de nosso calendário, sobre os locais de treino e a criação de percursos que atendessem aos atletas e às provas que viriam pela frente. Também nos preocupamos com o treinamento dos nossos profissionais que iam se envolver com o trail run”, explica Renato.

As características desafiadoras e motivantes do trail run, aliadas aos cenários onde ele é praticado, atraem cada vez mais atletas de corrida do asfalto e mesmo de outras modalidades. Renato acredita que o esporte é para todos, mas lembra que ele requer cuidados especiais no planejamento.

“Ainda tenho receio do que pode acontecer com a modalidade se os atletas não buscarem um bom planejamento na iniciação desta prática. A corrida de rua já é associada a lesões por parte dos praticantes. O que dirão das corridas de montanha, em que as provas que mais chamam atenção são as ultramaratonas.  Acho que é importante ter experiência para poder ensinar aos novos atletas as técnicas necessárias para correr. Ser um treinador que pratica a modalidade é fundamental”, completa Renato.

Com um forte atendimento ao mercado corporativo, a Inthegra, assessoria esportiva do Rio de Janeiro, tem empreendido esforços para atrair atletas para seus treinos de trail running. O administrador e treinador João Paulo Póvoa acredita que a modalidade é uma ótima opção para aqueles atletas que estão se ‘saturando’ do asfalto.

“As corridas de montanha são daquelas novidades que vem para ficar. Já se passaram mais de 10 anos desde que as corridas de rua ficaram mais organizadas e profissionais. Os atletas precisam de novos desafios e muitos já fecharam um ciclo no asfalto. Percebo que aqueles que procuram por treinamento de trail especializado já têm vivência na corrida”, diz João Paulo.

Joel Glicério, da Inthegra, no XTerra

O treinador conta que voltou suas atenções à modalidade quando percebeu que a saída de alguns alunos estava relacionada a alguns comentários dentro da assessoria sobre algumas provas de montanha. Era hora de se ajustar à nova demanda. E entender por que aqueles alunos deixaram a assessoria foi fundamental para os ajustes necessários.

“Esses atletas tinham características clássicas, como uma grande meta no asfalto que conseguiram cumprir, disponibilidade de tempo para treinos em locais remotos e 100% de afinidade com o trail. Feito isso, decidi que tínhamos que oferecer os que nossos clientes queriam”, explica o treinador.

Mudanças ou ajustes na estratégia nem sempre são fáceis. Especialmente quando já se oferece um serviço de excelência para clientes exigentes e adaptados a uma certa rotina de treinamento. No caso da Inthegra, era um desafio mexer nos tradicionais treinos de sábado na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio.

“Havia um receio de variar os locais de treino e cancelar os treinos de sábado na Lagoa. Então, para atender aos alunos de trail, marcamos treinos em locais próximos, como a Floresta da Tijuca e a pista Cláudio Coutinho, com trilha no Morro da Urca. Mas para nossa surpresa, os alunos de asfalto gostaram da variação. Alguns ficam só na pista, mas outros se arriscam nas trilhas”.

O treinador acredita que o trail pode atrair até aqueles corredores ‘fissurados’ no asfalto e muito ligados em pace e recorde pessoal. Especialmente aqueles que já não conseguem mais baixar seus tempos ou melhorar a performance. Para as assessorias é um desafio manter estes alunos treinando. Nestes casos oferecer treinamento de trail run de qualidade pode ser um grande negócio.

“Corredores com 10, 20 ou até 30 anos na corrida já não conseguem bater os seus melhores tempos e isso pode ser desanimador. No trail eles se veem novamente desafiados a aprender uma nova técnica, uma nova estratégia. Correr também em diferentes lugares, com diferentes cenários, é motivador. No trail essas possibilidades se multiplicam. Às vezes na mesma prova, caso chova muito nos dias antecedentes, a corrida tem características muito diferentes de outra no ano anterior. Isso é desafio! E corredor gosta de desafio!”, anima-se João Paulo, lembrando que neste sentido, os organizadores caminham junto com as assessorias, ao oferecer provas curtas, de 5 ou 6K, dentro de provas mais longas. “Dá para chamar de Family Run… Mesmo o caminhante, pode participar e terminar com 1h30 de prova! Nada mau, para ser um objetivo do caminhante. Com certeza será uma nova experiência para quem está acostumado a fazer as provas de 5K no asfalto”.

Em relação ao mercado corporativo, João Paulo Póvoa, vê grandes vantagens no trail run, mas acredita que as empresas ainda vão levar um tempo para incluir a modalidade em seus programas de qualidade de vida, visto que exige um pouco mais de investimento e de planejamento.

“Temos provas próximas no Rio, como Arraial do Cabo, com 6K e largada às 18h! Levar os funcionários para uma prova assim tem um potencial sensacional. Mas é um gasto maior com transporte, inscrições mais caras e hospedagem. Em contrapartida, nossos atletas corporativos sabem que temos essas provas na programação e eles mesmos investem na modalidade”.

Proprietário e treinador da assessoria mineira que leva o seu nome, Heleno Fortes é um dos treinadores mais procurados quando o objetivo é boa performance nas corridas de rua, especialmente meias e maratonas. Não é raro ver atletas amadores da assessoria completando maratonas em menos de três horas. Ser sub3h numa maratona não é algo fácil para um atleta amador.

Heleno mantém-se fiel à forte relação com a performance de seus alunos na corrida de rua. Mas acredita no crescimento do trail running e, assim como João Paulo Póvoa, vê a modalidade como uma alternativa para aqueles atletas que perderam o entusiasmo com o asfalto.

“É uma opção para aqueles que querem explorar novos horizontes. Mas comparando-se as duas modalidades, ainda é pequeno o interesse pelo trail running. Para cada 30 alunos que entram na HF, um procura especificamente o trail run”.

Mesmo com uma procura ainda pequena, Heleno, sem desviar o foco do asfalto, procura dar a atenção que o trail running requer e que seus alunos – como clientes – procuram.

“O grupo ainda é pequeno, mas mesmo assim damos atenção e oferecemos a mesma qualidade de treinamento. Ainda não criamos um ponto de treinamento específico para trail run, visto que é difícil ter acesso e controle de todos que estarão no treino. Na trilha, ter várias pessoas de vários níveis, torna bem mais difícil o controle e a segurança. É preciso ter um número de alunos que justifique e que cubra as despesas de um treino trail run, como deslocamento, hidratação e o treinador. Caso contrário, não vale a pena”, explica Heleno, lembrando que a modalidade só será democrática em lugares que existam trilhas de fácil acesso e segura, de modo que permita o treino de atletas iniciantes.

Em Curitiba, a Carbono Assessoria Esportiva passou a ser uma referência em treinamento de trail running. Assumiu essa posição e hoje pode-se dizer que é especializada nesta modalidade e procura se segmentar cada vez mais. Até seus parceiros e apoiadores são relacionados ao trail running.

“Aos poucos fomos nos direcionando para isso. Nosso site, nosso marketing e nossas redes sociais deixam claro que atletas queremos atrair. E as pessoas que têm nos procurado são exatamente aquelas que querem ir para a montanha. Os atletas que já estavam com a gente também aos poucos vão experimentando. Quem não tem experiência, treinamos e colocamos em provas curtas, com baixa altimetria. Aos poucos vão pegando gosto”, conta Carlos Eduardo de Oliveira, sócio e treinador.

Atletas da Carbono na La Mision Serra Fina

A opção de tornar a Carbono uma assessoria de trail running foi tomada logo que as atividades começaram, há seis anos. Carlos Eduardo conta que já havia esta demanda, embora fossem pouquíssimas as provas da modalidade no Paraná. As poucas que apareciam eram de cross-country. Mesmo assim ele apostou na segmentação. Aos poucos foram aparecendo novas provas e o mercado foi aumentando. Eram cada vez mais corredores nas trilhas.

“Então, nos fins de semana os treinos deixaram de ocorrer nas ruas. Passaram a ser todos nas trilhas da região metropolitana de Curitiba. Especialmente os longos. Aí entram os ajustes e demanda maior de energia. Acordar mais cedo para chegar no local do treino. O risco maior de acidentes e de alguém se perder faz com que tenhamos mais professores, mais atualização. O planejamento é outro. Temos que saber quem vai ao treino para não ter problemas. Pensar em todas as variáveis e traçar percurso, distância, altimetria. Tudo isso mudou completamente o nosso fim de semana. Também temos seguro para todos os atletas que vão para a trilha. Pagam à parte e é renovado a cada mês. Assim eles ficam tranquilos. E eu também!”, afirma Carlos Eduardo.

Fonte: Revista Trail Running