Ricardo Favoretto: do automobilismo ao triathlon, a paixão pela velocidade e pela competição

Ricardo Favoretto: do automobilismo ao triathlon, a paixão pela velocidade e pela competição

14 de abril de 2020 0 Por Paulo Prudente

Você certamente já ouviu falar que o triathlon é um estilo de vida. Depende! Você pode praticar por um tempo, pensar em uma prova-alvo como desafio e depois parar. Mas e quando você não se cansa de estabelecer novos desafios, de fazer amigos no esporte e percebe que ele gira junto com todo o resto de sua vida? Isso mesmo, vida e triathlon giram juntos, não um em torno do outro. Chegar a um estágio assim demanda tempo. O administrador paulista Ricardo Favoretto, de 31 anos, é filiado à Federação Paulista de Triathlon e um bom exemplo de como esta sintonia é possível, mesmo com toda a correria do mundo moderno.

“São vários ciclos que se completam até chegar ao ponto de você deixar o triathlon ser realmente parte da sua vida. Muitas coisas são necessárias para isso. E não falo apenas em relação aos treinos, às provas ou aos equipamentos. São as pessoas com quem você convive, os melhores amigos, o network… tudo fica interligado. Continuo tendo os amigos da escola, do trabalho, da faculdade. Mas são os do triathlon que vejo com mais frequência. E tudo é muito divertido. Isso me motiva e me faz querer ir além, ajudando a dar sentido à minha vida”.

Em 2019, Ricardo foi o primeiro colocado de sua categoria no ranking nacional do IM 70.3. Não por acaso, afinal a competitividade está no sangue. Mas o triathlon é algo recente em sua vida, que sempre foi muito ativa em relação à prática esportiva. Começou com a natação, modalidade que praticou por quase 15 anos.

“Minha história no esporte é bem longa. Desde criança meus pais sempre me incentivaram a fazer de tudo. Caí na piscina com dois anos de idade e cheguei a competir ainda pequeno. Joguei muita bola e participei de competições na escola. Sempre tinha destaque num esporte ou outro e adorava jogar tênis no clube. Mas o principal foi a natação”.

No meio dessas idas e vindas nestas modalidades, apareceu a oportunidade de pilotar kart. Com os pais, os avós e alguns amigos da família fãs do automobilismo, aos 12 anos Ricardo foi levado pela família a uma corrida em São Paulo. Era o seu o primeiro contato com a velocidade e mais tarde isso rendeu-lhe uma experiência que carrega consigo até hoje.

“Quando eu vi aquilo fiquei maluco. Depois de um mês tentando convencer o meu pai, consegui dar a minha primeira acelerada e o bichinho da velocidade me picou na hora. A partir dali fui até a principal categoria do kart e quando já estava disposto a parar fui convidado pela BMW para dois testes em Valência. Acabei entrando para a equipe da fábrica. Fui para lá com quase 18 anos e pude sonhar com a Fórmula 1. Fiz a Fórmula BMW das Américas e tive muito contato com a equipe da fábrica na Fórmula 1. Vivi este sonho por dois anos.  Um crescimento profissional e uma experiência que impactaram em tudo na minha vida. Por uma combinação de fatores não deu para seguir”.

De volta ao Brasil em 2009, Ricardo decidiu estudar Administração, formando-se em 2013. Uma época, segundo ele, sem referências no esporte e de hábitos sedentários. Baladas, festas, viagens – sem loucuras, ele avisa – e um estilo de vida que não havia experimentado até então.

“Foi um período de hiato no esporte em minha vida. Perdi um pouco a referência. Ganhei muito peso e com o estresse de trabalho virei um coquetel molotov. Aí caiu a ficha e eu pensei ‘nunca fui assim’. Então comecei a buscar maneiras para mudar aquela vida que levava e voltar a ser uma pessoa saudável”.

A vontade de largar o sedentarismo coincidiu com o surgimento das ciclovias em São Paulo e como Ricardo morava relativamente perto do trabalho, ir de bike seria perfeito.  E parecia mesmo que tudo conspirava a seu favor.

“Nesta mesma época surgiram aquelas bikes do Itaú e os colegas de trabalho começaram a usar.  Um dia resolvi testar e fiz o percurso casa-trabalho 10 minutos mais rápido do que de carro. E ainda pratiquei esporte, juntando o útil ao agradável. Dois meses depois comprei uma bike para fazer este deslocamento todos os dias. Aí começaram a surgir os papos sobre pedalar em grupo à noite. Até que uns três meses depois um colega do trabalho, já decidido a ser ciclista, me chamou para fazer o L-Étape, em Cunha. Disse que eram cento e poucos quilômetros e me apresentou à assessoria dele.  Eu tinha uma Caloi na época e comecei a treinar. Era 2016 e eu senti de volta a paixão pela roda, pelo asfalto e pela velocidade. Era a minha porta de entrada no triathlon, embora isso ainda levasse uns dois anos para acontecer”.

Ricardo investiu em uma bike speed, dedicou-se aos treinos e foi para a sua primeira prova de ciclismo. E não fez feio. O lastro e toda a memória muscular de uma vida inteira na prática esportiva fizeram a diferença.  A cabeça ainda era de atleta, bastava retomar a disciplina, apurar o foco e treinar. Tudo o que Ricardo sempre gostou de fazer.

“Estava decidido a buscar algo a mais. Sempre estive, na verdade.  Isso você não perde jamais e assim minha curva de aprendizado no ciclismo foi fora do comum se comparada com a de alguém sem qualquer base no esporte. No mesmo ano eu já estava fazendo provas fora do Brasil, como o Granfondo. A paixão pelo ciclismo só aumentou. Era sair por aí e pedalar!”

Foram dois anos de casamento com o ciclismo, com um pequeno flerte com o triathlon. E a história não foi muito diferente das que vimos por aí. Um companheiro dos treinos de ciclismo era triatleta e começou a plantar a sementinha do triathlon na cabeça do administrador.

“Tem sempre alguém para instigar a gente… Alguém lembrou que eu nadava bem quando criança e que bastava retomar os treinos. Que eu estava pedalando muito e que, portanto, só faltava correr um pouquinho. Me encheram tanto que me convenceram a fazer o Troféu Brasil de Triathlon no final de 2016. Fiz a prova e gostei, mas não a ponto de despertar em mim a vontade de fazer outras provas de triathlon. Para completar, durante um treino de corrida veio a primeira lesão. Aí deixei a ideia de lado e fui pedalar.  Pedalei 2017 inteiro, até que no fim do ano lançaram o Triday Series na USP. Decidi treinar e nessa mesma época anunciaram o IM 70.3 Floripa, em abril de 2018. Aí começou a minha saga…”

Ricardo fez, e bem, a prova na USP e decidiu que era hora de encarar o triathlon com o respeito que ele merece. Com treinamento sério e adequado. Depois da virada do ano o foco passou a ser o 70.3 em abril. E o foco fez despertar em Ricardo o adormecido espírito de competição. Um sentimento que o acompanhou durante anos e que dá um certo sentido à sua vida de atleta.

“Na bike eu já tinha muita bagagem, então tive que buscar volume na corrida para correr bem os 21k e ir atrás também da performance na natação. Mas valeu muito à pena. Aquela prova me transformou em um triatleta. Quando cruzei aquele pórtico deixei de ser ciclista. Chega a ser bizarro cruzar aquela linha de chegada. É algo inexplicável!”, conta Ricardo, apaixonado pela distância, que, segundo ele, exige intensidade com um volume maior e mais desafiador que a distância olímpica.

A experiência e a boa performance no ciclismo deram o tom na evolução de Ricardo no triathlon. Uma evolução que conta com o suporte da MPR Assessoria Esportiva, através do treinador Emerson Gomes, e da equipe multidisciplinar da Care Club. Para o triatleta, sem estes profissionais até que seria possível seguir no esporte, mas sem a mesma carga de treinos, o que significa menor competitividade e queda na performance.

“Com todos eles é uma relação de confiança, mas como a MPR é um casamento. Confio neles pra tudo. Passo para eles o que mudou nos meus planos de prova e na minha rotina. Eles mudam toda a programação e me passam. Mas também agrega muito à minha performance o acompanhamento do Dr. Gustavo Magliocca e de toda a equipe da Care Club. Quem busca performance precisa disso. Eu sou competitivo e sei que minha carga de treinos está longe de ser saudável. Mas isso me faz feliz e eu me cerco de cuidados para buscar performance de uma forma segura”.

Todo este cuidado deu resultado e rendeu a Ricardo os dois primeiros prêmios na temporada 2019: pódio na categoria e a vaga no Mundial de Nice, na França.

“Pela primeira vez alcancei um pódio na minha categoria, que é muito forte. Sempre fui bom nadador e forte no pedal, em que busco posições. Mas a corrida era defensiva e em Floripa ela deslanchou. Pela primeira vez minha classificação na corrida foi melhor do que no ciclismo. Corri aquela meia pra 1h23min. Aí teve o 70.3 Maceió e um mês depois, em setembro, o Mundial, que fui para curtir, celebrar o momento e o meu casamento com a Larissa. A prova foi no final da nossa lua-de-mel. Eu, Larissa e o triathlon. Isso é que é amor!”, brinca o atleta.

Mas 2019 ainda lhe reservava uma grata surpresa. Apesar de vir se recuperando de uma lesão, Ricardo decidiu correr o IM 70.3 SP, em novembro. Fez uma ótima prova, chegando em segundo na categoria.

“Foi uma baita prova! Por causa da lesão já estava ruim de performar, mas ainda assim fui vice-campeão na categoria. Acabei 2019 como campeão na 30-34 no IM 70.3 Brasil. Isso me marcou muito. Pode não ser nada, mas para quem tem o meu histórico de atleta… Estava louco para subir lá no alto do pódio de novo. Fechei o ano com chave de diamante. E segui a vida”.

E seguiu com disciplina e organização. Aliás, duas virtudes necessárias para quem quer performar no triathlon e fazer uma carreira profissional de sucesso. Conciliar treinos de três modalidades e uma intensa agenda profissional não é tão fácil. Mas não é impossível desde que haja disciplina e organização. O objetivo de Ricardo é crescer na carreira em uma grande empresa de tecnologia sem abrir mão da performance.

“Quero uma carreira profissional que traga coisas boas que reflitam na minha família. E quero também crescer no triathlon. Acho que o segredo para performar bem nas duas áreas é acertar a logística. Isso não é da noite para o dia. São pequenos ajustes que fazemos ao longo dos dias, dos meses e dos anos. Até que um dia as coisas começam a fluir. Simplesmente começam a dar certo e você deslancha. Por isso eu digo que o triathlon tem a nutrição, o fortalecimento… e tem a logística. Sempre planejo toda a minha semana, de trabalho e de treinos. Tudo com antecedência e bem claro. Em tempos normais, inclusive os deslocamentos. Por exemplo, depois dos treinos de ciclismo e corrida quase sempre já vou direto para o trabalho, então na segunda-feira eu já deixo as roupas da semana inteira e coisas de higiene no escritório”, revela Ricardo, que encaixa os 40 minutos de natação na hora do almoço. E os domingos, quando não há prova, quase sempre são dayoff, dedicados à sua família e à família da esposa Larissa.

Mas e quando no meio de tamanha organização, uma logística encaixada e planos muito bem definidos aparece uma pandemia forçando o isolamento social? Provas adiadas, canceladas, mudanças radicais na periodização e uma total incerteza em relação ao esporte no restante do ano. Ricardo tenta refazer os planos e seguir treinando.

“Aquele planejamento já era. Não sabemos que provas teremos e quando teremos. Penso em talvez uma Triday no fim de junho, um 70.3 em agosto, um 70.3 em São Paulo, uma prova em dezembro… Quem sabe uma maratona pura, algo que eu sempre quis fazer! Daqui a um mês a gente pensa nisso… Está tudo muito incerto! O que está certo mesmo são os treinos em casa. Aliás, tudo isso serviu para arrumar muita coisa em casa. Tenho uma boa varanda no apartamento e decidi tirar da gaveta o projeto da minha ‘pain cave’. Tem rolo, esteira, pesos, anilhas, barras… Estou munido de tudo o que preciso em casa para os treinos. Só falta a piscina… Mas a natação a gente recupera depois”, anima-se Ricardo.

Essa animação se explica pelo impacto que o esporte tem em sua vida. Segundo o triatleta, o esporte é um propulsor de coisas boas. As pessoas que te rodeiam, os objetivos que você estabelece e as transformações a que você se propõe a fazer. Para Ricardo tudo tem o seu paralelo na prática esportiva.

“O ciclismo e hoje o triathlon mudaram a minha vida. O automobilismo foi como uma namorada de escola. Mas casei mesmo com o ciclismo e com o triathlon. Quero passar o resto da minha vida com eles. E eles refletem em todo o resto da minha vida. Me enchem de disposição e de motivação, apuram o meu foco e a minha disciplina”, completa Ricardo.